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Cigarro eletrônico e câncer: uma análise oncológica

Cigarro eletrônico e câncer: uma análise oncológica

23/AGO/2022

Saúde

Dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs), como os cigarros eletrônicos, são equipamentos à base de bateria utilizados para inalação de vapor, contendo nicotina, aromatizantes, flavorizantes e outros produtos químicos (1). Desde 2009, a comercialização, importação e propaganda de todos os DEFs são proibidas, de acordo com a Resolução de Diretoria Colegiada da Anvisa nº46 de 2009 (2). Contudo, apesar de existir essa regulamentação, pelo menos de 1 a cada 5 jovens de 18 a 24 anos usa cigarros eletrônicos no Brasil, segundo relatório Covitel (Inquérito Telefônico de Fatores Riscos para Doenças Crônicas não Transmissíveis em Tempos de Pandemia) (3).

 

Dentre os fatores que podem estar associados ao maior atrativo pelo cigarro eletrônico destacam-se, dentre outros, a portabilidade e a praticidade desses aparelhos, além da ausência de combustão do vapor, o que reduz a produção de fumaça e de bitucas após o uso. Além disso, pode-se pontuar a facilidade de compra, principalmente pela Internet, mesmo com as restrições de venda impostas pelo governo brasileiro. 

 

No entanto, o crescimento desse consumo de DEFs, em especial entre o público jovem, emerge como problema de saúde pública, tendo em vista os riscos que eles apresentam. Primeiramente, de forma mais abrangente, cabe destacar que os cigarros eletrônicos podem atuar como elementos iniciadores da introdução ao consumo de cigarros convencionais, o que pode atuar como empecilho ao combate do tabagismo no país (1). Ademais, torna-se necessário evidenciar os distúrbios de saúde que podem ser desencadeados em médio e longo prazo, tais como doenças cardiovasculares, doenças pulmonares agudas, a exemplo da EVALI (Lesão Pulmonar Induzida pelo Cigarro Eletrônico), e neoplasias. Acerca da EVALI, estão associadas as seguintes manifestações: fibrose pulmonar, pneumonia e, em casos graves, insuficiência respiratória. (4) 

 

Os cigarros eletrônicos estão, ainda, sabidamente associados ao processo de carcinogênese. As neoplasias que podem se originar pelo uso de tais dispositivos, ao contrário do senso comum, não se restrigem ao pulmão e pode acometer demais estruturas, como boca ou garganta. Ademais, alguns dos carcinógenos presentes nos DEFs (os quais, notadamente, incluem nitrosaminas, formaldeído, o-toluidina, 2-naftilamina, acroleína e acetaldeído - além da já conhecida nicotina) também estão associados a neoplasias em diferentes órgãos, tais como a bexiga. 

 

Um experimento da NYU de 2019 mostrou que a incidência de tumores de pulmão e hiperplasia de bexiga foi maior em camundongos expostos à fumaça dos DEFs em comparação a camundogos não expostos à tal composto. Este foi o primeiro experimento a conseguir associar os compostos dos ciagrros eletrônicos com o desenvolvimento de neoplasias, mesmo que ainda em cobaias.

 

Além dos compostos supracitados, os DEFs também podem liberar nanopartículas de metais tóxicos do dispositivo (por conta da combustão). Isso, somado à própria fumaça do dispositivo (a qual pode, por si só, causar dano celular, dada a elevada temperatura desta), também serve como gatilho para a indução e/ou acúmulo de mutações celulares.

 

Portanto, conclui-se que o uso dos DEFs, independentemente da frequência de uso, traz diversos riscos ao usuário. Uma vez que a grande parte do público usuário é, conforme já mencionado, jovem, sabe-se que os danos causados podem manifestar-se precocemente e, ainda, acumularem conforme os anos de fumo. Sendo assim, é importante que as pessoas tenham conhecimento acerca de tais malefícios (notadamente, os riscos pulmonares, cardiovasculares e neoplásicos - alguns, irreversíveis - e, ainda, a possibilidade de desenvolver dependência). Desse modo, com a redução da disseminação e frequência desse hábito, muitas destas patologias poderão ser evitadas.

 

Autores: Comissão de Ensino Médico da Sociedade de Acadêmicos de Medicina de Minas Gerais (SAMMG) 

 

 

Referências bibliográficas

1. Barufaldi L, Guerra R, Albuquerque R, Nascimento A, Chança R, Souza M et al. Risco de iniciação ao tabagismo com o uso de cigarros eletrônicos: revisão sistemática e meta-análise. Ciência & Saúde Coletiva. 2021;26(12):6089-6103. [cited 2022 July 6]. Available from: https://www.scielo.br/j/csc/a/7KBmCMtjrGhs6Fgr5bxksQP/abstract/?lang=pt#

2. Anvisa. Resolução da Diretoria Colegiada - RDC nº 46. Proíbe a comercialização, a importação e a propaganda de quaisquer dispositivos eletrônicos para fumar, conhecidos como cigarro eletrônico. [cited 2022 July 6]. Available from: http://antigo.anvisa.gov.br/documents/10181/2718376/RDC_46_2009_COMP.pdf/2148a322-03ad-42c3-b5ba-718243bd1919

3. Hallal P, Sardinha L, Wehrmeister F, de Paula P. Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas não Transmissíveis em tempos de pandemia – Covitel [Internet]. 2022. [cited 2022 July 6]. Available from: https://www.extraclasse.org.br/wp-content/uploads/2022/04/Relatorio-Covitel.pdf

4. EVALI – Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia [Internet]. Sbpt.org.br. 2022 [cited 2022 July 6]. Available from: https://sbpt.org.br/portal/t/evali/

5. Tang MS;Wu XR;Lee HW;Xia Y;Deng FM;Moreira AL;Chen LC;Huang WC;Lepor H; Electronic-cigarette smoke induces lung adenocarcinoma and bladder urothelial hyperplasia in mice [Internet]. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America. U.S. National Library of Medicine; [cited 2022Jul6]. Available from: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31591243/#:~:text=In%20this%20study%2C%20the%20carcinogenicity,vehicle%20control%20or%20filtered%20air